Como o Fenômeno "Zero Clique" e a Ascensão da AI Visibility estão Reescrevendo a Economia da Internet
O Google AI Overviews eliminou 600 milhões de visitas mensais, criou uma taxa de 69% de buscas sem clique e está forçando marcas a adotar estratégias de AI Visibility para sobreviver em 2025.
A internet, como a conhecemos nas últimas duas décadas, operava sob um contrato social implícito: os criadores produziam conteúdo, os buscadores organizavam esse conteúdo e, em troca, enviavam tráfego — a moeda vital da economia digital. Em 2025, esse contrato não foi apenas renegociado; ele foi unilateralmente rasgado.
Um novo e alarmante relatório de mercado lança luz sobre uma transformação tectônica que está abalando os alicerces da publicação digital e do e-commerce. O culpado? A integração agressiva de recursos generativos nos motores de busca, liderada pelo onipresente AI Overviews (Visão Geral de IA) do Google.
O resultado é o fortalecimento do fenômeno "Zero Clique", onde a jornada do usuário começa e termina na página de resultados, deixando editores, marcas e criadores à deriva em um oceano de irrelevância algorítmica.
Neste artigo, dissecamos os números alarmantes de 2024-2025, analisamos o impacto devastador em setores específicos e exploramos a nova fronteira estratégica que surge das cinzas do SEO tradicional: a era da AI Visibility.
📊 I. Anatomia da Queda: Os Números do Colapso
Para entender a gravidade da situação, é preciso olhar para os dados brutos. Desde o lançamento global e massivo do AI Overviews em maio de 2024, o ecossistema digital testemunhou uma hemorragia de tráfego sem precedentes.
⚠️ O Colapso em Números
De acordo com dados consolidados pela SimilarWeb, a ferramenta do Google contribuiu diretamente para uma queda vertiginosa no tráfego de sites de notícias e editoriais. Em meados de 2024, esses portais acumulavam cerca de 2,3 bilhões de visitas mensais. Em maio de 2025, apenas um ano depois, esse número despencou para 1,7 bilhão.
Estamos falando de 600 milhões de visitas — e as consequentes impressões de anúncios, assinaturas e leads — que evaporaram do ecossistema aberto.
O Salto do "Clique Zero"
O dado mais chocante, no entanto, vem da mudança de comportamento do usuário. Em apenas 12 meses, a taxa de pesquisas de "clique zero" — aquelas em que o usuário obtém sua resposta sem nunca visitar um site de terceiro — saltou de 56% para 69%.
69%
Isso significa que, em 2025, quase 7 de cada 10 interações com o maior buscador do mundo não geram valor direto para os criadores da informação original.
"O Google deixou de ser o 'organizador da informação mundial' para se tornar o 'narrador da informação mundial', retendo o usuário em seu próprio jardim murado."
💔 II. O Efeito Dominó: Quem Sangra Mais?
Enquanto o Google defende que suas ferramentas criam "novas oportunidades de descoberta", estudos independentes pintam um quadro muito mais sombrio, especialmente para nichos que dependem de respostas factuais ou instruções passo a passo.
Um estudo aprofundado da Ahrefs quantificou o prejuízo: sites perdem, em média, 34,5% de seus cliques orgânicos sempre que a AI Overview é ativada para uma palavra-chave específica. Contudo, essa média esconde tragédias setoriais:
📉 Setores Mais Afetados
👗 Moda e E-commerce
Portais que vivem de recomendações de tendências viram quedas de até 70%. A IA agora sintetiza "as melhores botas para o inverno de 2025" comparando preços e avaliações diretamente na tela de busca, eliminando a necessidade de visitar blogs de moda ou sites de review.
🍳 Culinária e Receitas
Talvez o setor mais afetado. A IA é extremamente competente em extrair ingredientes e modos de preparo, entregando a receita completa no snippet. O usuário obtém o valor (a receita) sem pagar o preço (visualizar os anúncios do site do criador).
📰 Jornalismo de Hard News
A síntese de notícias em tempo real remove a necessidade do clique para entender o "o quê, onde e quando". O tráfego restante é frequentemente de baixa qualidade ou de usuários que já buscam uma opinião específica, polarizando ainda mais a audiência.
🔄 III. A Defesa do Google e a Ascensão de Novos Players
O Google, alvo de processos antitruste e críticas ferozes de associações de mídia como a News Media Alliance, argumenta que a IA evolui a busca para consultas mais complexas, o que, em teoria, enviaria um tráfego "mais qualificado" para a web.
A tese da gigante de Mountain View é que, ao responder perguntas simples, o usuário é encorajado a fazer perguntas mais difíceis, que eventualmente levariam a sites especializados.
No entanto, os dados de 2025 sugerem que essa "pergunta mais difícil" também está sendo respondida pela IA.
O Paradoxo do ChatGPT
Curiosamente, enquanto o Google fecha as portas, novos caminhos se abrem. O tráfego de referência proveniente do ChatGPT (e sua integração com o SearchGPT) aumentou significativamente no último ano.
Diferente do Google, que canibaliza o conteúdo para manter o usuário na SERP (Search Engine Results Page), ferramentas como o ChatGPT e o Perplexity têm adotado, em alguns casos, uma postura de "motor de resposta com citação".
Para alguns veículos de mídia que fecharam acordos de licenciamento (como The Atlantic, Axel Springer e News Corp), o ChatGPT tornou-se uma fonte de tráfego vital e, mais importante, uma fonte de atribuição de autoridade.
🔀 Bifurcação da Internet
- A Web de Busca (Google): Focada em retenção e respostas diretas.
- A Web de Resposta (LLMs): Focada em síntese, mas que começa a emergir como um novo canal de descoberta de fontes primárias para usuários que desejam aprofundamento.
🎯 IV. AI Visibility: A Nova Moeda do Marketing Digital
Diante desse cenário de terra arrasada para o SEO tradicional, surge um novo conceito mandatório para CMOs e estrategistas digitais: a AI Visibility (Visibilidade em Inteligência Artificial).
💡 A Nova Regra do Jogo
A era de otimizar para "10 links azuis" acabou. A nova batalha é para ser a fonte da qual a IA extrai sua resposta.
Se o Google vai responder ao usuário sem clicar, a sua marca precisa ser a resposta que o Google cita, ou a entidade que influencia a resposta.
O Que Muda na Estratégia?
1️⃣ Do Tráfego para a "Share of Model"
As métricas de sucesso estão mudando de "Sessões" e "Pageviews" para "Citações em IA" e "Influência na Resposta". Marcas precisam monitorar com que frequência são mencionadas nas respostas geradas por IA.
2️⃣ Otimização para LLMs (LLMO)
Diferente do SEO, que foca em palavras-chave, a otimização para LLMs foca em autoridade semântica e estrutura de dados. As IAs favorecem conteúdo que é factualmente denso, bem estruturado (Schema markup) e citado por outras fontes de alta autoridade.
3️⃣ A Sobrevivência do "Insumarizável"
Se o seu conteúdo pode ser resumido em um parágrafo por um robô, ele não tem valor comercial em 2025. A estratégia de conteúdo deve pivotar para o que a IA não consegue replicar: opinião humana forte, análise de dados proprietários, vídeo, áudio e construção de comunidade.
A Exigência de Transparência e Dados Abertos
Organizações como a DCN (Digital Content Next) têm liderado o apelo por transparência. O mercado exige saber: quais dados estão sendo usados para treinar os modelos? Como a atribuição é calculada?
A "caixa preta" dos algoritmos de IA não é mais aceitável para anunciantes que veem seu ROI desaparecer. A AI Visibility exige um ecossistema onde a troca de dados seja justa: se a IA usa meu conteúdo para treinar seu modelo e responder ao usuário, eu preciso ser compensado ou, no mínimo, claramente creditado com um link de alta visibilidade.
🚀 V. O Futuro: Adaptar-se ou Morrer na Irrelevância
Ignorar a AI Visibility em 2025 é o equivalente a ignorar o SEO em 2005 ou as redes sociais em 2010. Significa perder a chance de competir por audiência, relevância e conversão em um ecossistema que já foi dominado pela inteligência artificial.
📋 Plano de Ação Imediato
Mensurar o Invisível
Utilizar novas ferramentas de analytics que rastreiam a presença da marca nos resumos de IA.
Criar Integrações
Desenvolver plugins, APIs e dados estruturados que facilitem a leitura da sua marca pelas IAs, garantindo que, quando o usuário perguntar, a resposta seja a sua empresa.
Focar no "Fundo do Funil"
Se o topo do funil (descoberta) foi cooptado pelo Google, as marcas devem focar na conversão e retenção dos usuários que restam, criando experiências em seus sites que o Google não consegue copiar.
"A era do clique fácil acabou. A internet encolheu em tráfego, mas aumentou em complexidade. O 'Fenômeno Zero Clique' não é o fim da web, mas é o fim da web medíocre."
Apenas aqueles que oferecerem valor real, profundo e humano — ou que souberem falar a língua dos robôs melhor que os concorrentes — sobreviverão à grande filtragem de 2025.
Principais Insights do Relatório
-600M
Queda de visitas mensais em sites de notícias (2,3 bi → 1,7 bi)
69%
Das buscas agora terminam sem clique em site externo
-34.5%
Perda média de cliques orgânicos quando IA aparece
-70%
Quedas em setores de Moda e Receitas
✅ Nova Oportunidade
Crescimento do tráfego de referência via ChatGPT e a necessidade urgente de estratégias de AI Visibility
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Sobre o Autor
Felipe Lourenzo
Felipe Lourenzo is an AI Researcher and AI Automation Specialist with a strong passion for Generative AI and LLMs. Focado em explorar como a inteligência artificial está transformando processos de negócio e criando novas possibilidades de automação inteligente.